Categoria: textão

  • Serviços federados são mais seguros

    Saiu na mídia que pesquisadores divulgaram uma brecha de segurança no WhatsApp que expõe os dados de praticamente todos os 3,5 bilhões de usuários do serviço.

    O que esse tipo de fato nos faz refletir é o risco que um serviço privado com tantos usuários traz consigo. Lembra quando sua avó dizia “não coloque todos os ovos num único cesto”? É sobre isso.

    O WhatsApp se tornou infraestrutural, isto é, não paramos mais pra pensar no custo que sua utilização tem para nós, usuários.

    O fato desse aplicativo reunir tantos usuários e tantas informações sobre cada um de nós coloca um alvo enorme na sua infraestrutura e na sua segurança.

    Nesse sentido, os serviços que funcionam em modo de federação, isto é, um ecossistema onde usuários se dividem em milhares ou milhões de diferentes instâncias, oferecem alguns benefícios reais em termos de segurança.

    O fato de instâncias não reunirem um número tão expressivo de usuários naturalmente reduzem tanto o interesse por uma exploração por vulnerabilidades quanto o impacto gerado por esse tipo de ataque.

    Além disso, serviços federados e voltados a comunidades não utilizam dados de seus usuários para fins comerciais, logo, não há enriquecimento “ilícito” de informações sobre cada conta.

    Se o conceito de federação está abstrato, observe a imagem abaixo…

    Cada micro pontinho azul é uma instância (servidor) XMPP ao redor do mundo. Cada aglomeração visível mostra as interconexões entre dezenas, centenas e até milhares de servidores XMPP uns com os outros, formando grandes “galáxias”.

    Dando um zoom, dá para visualizar um pouco mais essas interconexões:

    Você percebe que cada instância que aparece nesse recorte – xmpp.eco.br e jabber.no – fazem parte de uma grande malha de servidores e interconexões, todos falando o mesmo protocolo e permitindo que seus usuários conversem livremente com pessoas de outras instâncias.

    A federação utilizada pelo isaCloud e todos demais serviços baseados em XMPP é natural e orgânica como nosso próprio Universo e representa a forma mais saudável, mais balanceada de se desfrutar de uma vida digital livre de grandes muros que acabam sendo impostos pelas bigtechs.

    E lembre-se: traga as conversas que mais importam para sua vida pro isaCloud. 🙂

    Com carinho,

    Isadora


    Nota: para explorar os mapas exibidos neste post, acesse https://xmppnetwork.goodbytes.im – mas cuidado que é bem “pesado” 🙂

  • O caminho parece estar certo, mas será desafiador

    Saiu uma reportagem da BBC News Brasil sobre o aplicativo indiano que quer desafiar a supremacia do WhatsApp e eu comecei a ler – incrédula, admito – porque normalmente essas matérias tem um título atraente e um conteúdo muito raso.

    Ao seguir passando meus olhos pelo texto, comecei a ficar cada vez mais atenta, porque o que está sendo reportado de fato é interessante.

    Contexto

    Tem uma empresa indiana que eu acompanho e uso serviços há muitos anos chamada Zoho. Eles possuem diversas soluções tanto para pessoas físicas quanto para empresas e até profissionais da área de operações de tecnologia como eu. Eles são os donos do Site 24×7, da suíte Zoho que compete com Google Workspace e alguns outros produtos.

    O fato é que a Zoho vem trabalhando num aplicativo de mensagens instantâneas chamado Arattai, que possui basicamente as mesmas funcionalidades básicas dos demais comunicadores, como mensagens um a um, grupos, chamadas de áudio e chamadas de vídeo.

    O fato surpreendente é que o Primeiro Ministro da Índia começou a falar publicamente em sua conta no Twitter (me nego a chamar de X) para que os indianos usassem o Arattai, que valorizassem a independência e soberania indiana. O contexto dessa fala não deixa de ter relação com as recentes mudanças nas relações comerciais entre o ocidente (US) e a Índia e o fato da Índia ser o maior mercado do WhatsApp com mais de 500 milhões de usuários num único país.

    Não quero aqui reproduzir a matéria da BBC, linkada ao final deste texto, mas especialistas sabem que vai ser difícil o Arattai romper a extensa base de usuários do WhatsApp, mas isso não significa que o Arattai não tenha uma jornada de sucesso pela frente.

    Tá, mas o que isaCloud tem a ver com isso?

    Vamos ver como isaCloud se compara ao Arattai.

    FuncionalidadeArattaiisaCloud
    Mensagens 1:1
    Grupos privados
    Canais públicos
    Chamadas de voz
    Chamadas de vídeo
    Transferência de arquivos
    Stories
    Login em múltiplos dispositivos
    Critpografia ponta a ponta nas chamadas de voz e vídeo
    Criptografia ponta a ponta nas mensagens 1:1 e grupos

    A tal privacidade

    Segundo o CEO da Zoho, eles pretendiam lançar o Arattai somente depois de implementar a criptografia ponta a ponta, porém acabaram antecipando por uma questão de pressão mercadológica (ou seria governamental?).

    Eu, como CEO do isaCloud, não faria isso, mas é fato que os usuários comuns não estão sequer cientes do que isso significa. Mas, pela proteção deles, eu não faria assim mesmo.

    Fora isso, tem uma questão fundamental no Arattai que é a pressão do governo para que o Arattai compartilhe dados com o poder público em situações “específicas”. Sabemos que todos os governos tem essa questão e que empresas que possuem uma envergadura jurídica e mercadológica usam todos os recursos necessários para “proteger” a privacidade dos seus usuários.

    Nesse ponto eu sou MUITO clara: o isaCloud tem a tranquilidade de armazenar um mínimo de metadados (descritos em nossa política de privacidade) para o funcionamento do serviço. Se formos acionados judicialmente para compartilhar informações acerca de algum processo ou investigação policial oficial, é claro que iremos compartilhar os poucos metadados disponíveis; porém, o teor / conteúdo do que nossos usuários trafegam é teoricamente inquebrável* pois as chaves criptográficas residem exclusivamente nos dispositivos de cada usuário.

    Conclusão

    Sei que o isaCloud e nenhum outro mensageiro livre, que respeita a privacidade dos usuários e que não usa dados dos usuários como moeda vai atingir uma popularidade tão grande, mas acredito piamente que vamos conseguir conquistar cada vez mais adeptos dentre os que escolheram a pílula vermelha de Matrix.

    Sobre o Arattai, desejo sucesso, de verdade. Seria muito bom ver uma iniciativa capaz de fazer um mínimo de barulho no universo dos mensageiros.

    Com carinho,
    Isadora.

    – – – –

    Link para matéria da BBC:
    https://www.bbc.com/portuguese/articles/ced5qy7ggzgo

    * Criptografias modernas podem ser teoricamente quebradas apenas com tecnologia quântica ou com poder computacional que talvez só a tal NSA tenha.

  • Impactos do ECA Digital

    A aprovação e sanção presidencial da Lei Felca – também conhecida por ECA Digital – vem para colocar uma série de obrigações para qualquer site ou serviço voltado para menores de 18 anos ou que estes possam ter acesso.

    Venho acompanhando pela mídia e pelo próprio documento da lei o que ela determina no sentido tanto da proteção dos menores quanto na limitação do acesso a serviços projetados para maiores de 18 anos.

    Desde o início tenho ficado em dúvida quanto a aplicabilidade dos processos de validação de identidade e idade.

    Sendo assim, pesquisei a respeito desse tema e existe uma série de soluções – nacionais, inclusive – que oferecem diferentes formas para identificar e validar uma pessoa que está acessando um serviço digital. Okay, talvez eu tenha entendido que sim, é tecnicamente viável validar identidades – inclusive usando o conceito de ZKP (Zero Knowledge Proof), onde uma identidade é validada, é gerado um token para a aplicação mas a aplicação não sabe os dados da pessoa que passou pela autenticação – mas para esse caso eu não encontrei ainda um fornecedor nacional.

    Conversando com um colega ele deu algumas sugestões que são bem factíveis também, como, por exemplo, fazer uma autenticação integrada com o Google, usando fluxo oAuth2, pois o Google é um serviço que requer que a pessoa seja maior de idade – nesse caso, a gente acaba terceirzando a responsabilidade e contando com a possibilidade do Google vir a implementar um mecanismo de validação de identidade para suas contas.

    Outra opção tecnicamente viável seria fazer uma transação num cartão de crédito, num valor simbólico de R$ 0,01 e que se fizesse o estorno imediato: nesse caso contamos com a credibilidade da operadora de cartão que não pode emitir cartão para menor – pelo menos não sem estar vinculado a um cartão de responsável.

    Mas o ponto é: eu não gostaria de dificultar a entrada de pessoas no isaCloud. Ele é para ser simples, familiar, para uma comunidade pequena. Além disso, é um serviço com financiamento próprio, sem nenhum recurso financeiro para ir atrás de soluções de validação de identidade e, principalmente, o isaCloud não tem registro aberto ao público, somente mediante convite.

    Eu realmente espero que a Lei Felca passe por revisões e que alguns requisitos sejam revisitados, seja no porte de quem provê o serviço, seja no volume de usuários.

    Esperar que o isaCloud tenha de cumprir as mesmas exigências que o WhatsApp da bilionária Meta é um tanto irreal.

    Não sei para onde isso tudo vai caminhar, mas eu vou fazer TUDO que estiver ao meu alcance para que o isaCloud esteja sempre disponível para você continuar mantendo as conversas e pessoas que mais importam pra você, por perto.

  • O protocolo mais perfeito dos imperfeitos

    Um pouco de contexto

    Como uma XMPP Lady que se preze, atuo vigilante e incessantemente no fediverso e canais XMPP lutando para desmistificar diversas questões relacionadas ao ecossistema do XMPP.

    Essas intervenções acontecem em diferentes tópicos relacionados, desde seu funcionamento em termos de protocolo, na parte backend (servidor) e até a operação dos apps que atuam como clientes de mensagens.

    Na parte de clientes é onde surgem as maiores questões. O protocolo tem uma característica de extensibilidade. Os padrões de funcionamento são organizados em XEPs (XMPP Extension Protocol) e a comunidade de desenvolvedores e organizações envolvidas atuam para implementar essas definições.

    Por se tratar de um software livre, o XMPP tem seus padrões definidos por uma entidade – a XSF (XMPP Standards Foundation) – que trabalha as propostas de extensão e as documenta para que sejam adotadas pela comunidade.

    No dia a dia

    Seguido pessoas leigas e técnicas fazem comparações do WhatsApp, Telegram, Signal e etc com o XMPP. São alegações diversas, como:

    • No WhatsApp é mais fácil migrar de aparelho sem perder as mensagens;
    • No WhatsApp não me preocupo com chaves de segurança;
    • Para ter um novo contato no WhatsApp só tenho que pegar o número de telefone do contato ou ler um QR Code;

    E aí entra a XMPP Lady em ação…

    • No WhatsApp é mais fácil migrar de aparelho sem perder as mensagens;
      No XMPP também! No seu iOS ou Android, ao fazer a migração de aparelhos usando o mecanismo do próprio sistema operacional, seus aplicativos e dados (incluindo suas chaves de criptografia) são movidas de um aparelho para outro transparentemente!
    • No WhatsApp não me preocupo com chaves de segurança;
      E por que você se preocupa com elas no XMPP se elas fazem parte do seu backup ou da migração entre aparelhos?
    • Para ter um novo contato no WhatsApp só tenho que pegar o número de telefone do contato ou ler um QR Code;
      E por que você não pede também o QR Code ou link de convite de contato para quem também usa XMPP? Ou porque não pede o ID da pessoa – sendo este ID um mero endereço e-mail?

    Para além de questões básicas como essa – que demonstram uma pura resistência sem nenhum fato, de fato (perdão a redundância), eu exemplifico um outro comparativo em formato de “FAQ”:

    • Se você trocar de celular ou simplesmente redefinir o telefone de fábrica e não tiver backup do WhatsApp, o que acontece com suas mensagens?

      Resposta: você perde suas mensagens históricas e continua conversando dali para frente.

      E no XMPP? Mesma coisa. Você precisa se backup da conta para ter acesso às mensagens históricas.
    • Se o seu telefone estiver na assistência técnica, como você faz para acessar seu WhatsApp?

      Resposta: se tiver um WhatsApp web já registrado, poderá continuar acessando dali. Se não tiver, ou fica sem acesso ao WhatsApp e incomunicável com as pessoas ou coloca seu número em outro chip, ativa num aparelho, loga no WhatsApp no aparelho e perde o acesso que tinha ao WhatsApp no aparelho anterior, causando uma bagunça nos seus históricos.

      E no XMPP? Você pode seguir usando sua conta em outro dispositivo que já tinha ativado e seguir a vida normalmente. Quando o aparelho voltar da assistência, ele vai sincronizar as mensagens não baixadas ainda do servidor (só varia quanto tempo cada servidor armazena offine, geralmente no mínimo 1 semana). Outra opção é acessar sua conta de outro aparelho ou cliente web qualquer e seguir se comunicando com as pessoas – mas só será possível ler as mensagens a partir do momento em que o novo dispositivo ingressou na sua conta.

    O protocolo perfeito

    Fora as comparações corriqueiras com WhatsApp, surgem as questões relacionadas a outros mensageiros descentralizados. Os mais conhecidos são o Matrix e o Delta Chat.

    De uma forma sucinta vou colocar aqui uma listinha de razões pelas quais eu considero o XMPP o protocolo perfeito dentre os imperfeitos – que são todos, sejam livres ou proprietários.

    • Maturidade: o XMPP está conosco há 26 anos, exatamente o tempo que eu, quem vos escreve, tem de mercado de tecnologia. Seu projeto teve início em 1999.
    • Flexibilidade: há quem diga que a extensibilidade do protocolo dificulta as coisas pros usuários… mas o que eu acredito é que é inerente a um protocolo livre não criar definições estanques sobre como cada servidor ou cliente vai funcionar e que funcionalidades vai implementar: isso fica a cargo da comunidade de desenvolvedores e da comunidade de usuários ajudar na definição do caminho.
    • Multicanal: o XMPP permite a comunicação por texto, voz e vídeo, diferente das outras soluções livres que mencionei antes desta lista.
    • Privacidade: se a pessoa está buscando anonimato, não será no XMPP que ela encontrará essa possibilidade. O XMPP é um protocolo que oferece toda privacidade necessária para sua comunicação e, operando em conjunto com OMEMO, garante a também a integridade e a confidencialidade do conteúdo das mensagens que você trafega. Os servidores XMPP atuam como relays, que conectam duas partes: remetente e destinatário; e, nesse sentido, o máximo de informação sua que há num servidor XMPP, por padrão, são metadados como timestamp de conexão, nome de usuário, nome de usuário de quem está na sua lista de contatos XMPP (chamada roster) e, habilitando um debug no servidor, pode-se auditar com que outro usuário você trocou mensagem, mas nunca o conteúdo dessas mensagens. Inclusive, mensagens offline esperando ser entregues para um dispositivo que está desligado ficam também criptografadas pois apenas o destinatário pode decodificá-la.
    • Federação: o fato de você poder criar sua conta no servidor XMPP administrado por uma comunidade ou pessoa que você confia dá um grau extra de conforto na hora de usar o serviço. Então você tem um ecossistema de milhares de servidores XMPP para escolher onde ter sua conta e diminui drasticamente a possibilidade de ser um alvo potencial de um roubo de dados visto que essas estruturas são pequenas demais para gerar qualquer interesse escuso. Pelo fato de ser distribuído, também reduz enormemente a possibilidade de um “apagão” generalizado pois cada servidor XMPP é independente.

    Facilitando o ingresso de novos usuários

    Por fim, quero deixar algumas dicas pessoais sobre como melhorar a jornada de ingresso de novos usuários no ecossistema XMPP.

    • Evite o “hoping”: pelo fato de haver muitos clientes disponíveis para uso, você pode até ficar testando esses clientes todos para você, mas evite ficar indicando mil opções para usuários novatos.
    • Eleja 1 cliente para Android, 1 para iOS, 1 para Windows, 1 para Linux e 1 para macOS e indique sempre esses para seus contatos – de preferência indique os aplicativos que são referência.

      Pessoalmente eu indico:
      isaCloud para Android – baseado no Conversations
      Gajim para Windows e Linux
      Monal para iOS, ipadOS e macOS
    • Evite dar detalhes técnicos sobre o protocolo porque as pessoas não querem saber sobre isso. Você acha que elas sabem alguma coisa do WhatsApp ou do Telegram?
    • Não explique sobre criptografia a menos que perguntem diretamente a você.

    E, por fim…

    Não tente convencer alguém de que a Zeta (nome fictício) é uma empresa vilã e por isso essa pessoa deve sair imediatamente do mensageiro da empresa… aborde seus familiares ou amigos com a ideia de que eles podem deixar o mensageiro padrão pras questões de trabalho e de “resolver problemas” e usar o isaCloud – ou outro serviço XMPP – para conversar com as pessoas que são mais importantes para elas. ☺️

    Pela atenção, obrigada!
    Isadora




    Links:
    https://isacloud.im
    https://xmpp.org
    https://conversations.im